Humanos X Sistema (NOVEL) - Capítulo 9.7
Um céu limpo de pecados, um olhar ardente e sem vida e, acima de tudo, as lágrimas de um dragão. Definitivamente uma cena imprescindível. Koute, em desespero, tentou voltar o tempo. Vinte segundos… não. Dez minutos! Uma tentativa que podia mudar tudo, acompanhada de uma falha que não mudou a situação. A magia de Koute foi interrompida antes mesmo de começar.
“Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê?!” – Pensou Koute de maneira estridente. Por que sua magia falhou logo agora?!
– … Não adianta, essa magia não funcionará diante de minha presença. – Comentou o homem.
Koute retornou à sua forma humana e, com lágrimas escorrendo e um rosto amargo, caminhou lentamente até o corpo decepado de Corlin. Ele caiu de joelhos em cima da poça de sangue e em sua frente, estava a cabeça de sua amada cortada ao meio.
Lágrimas fluíam e se misturavam com a poça sangrenta. Loucura entrava a partir de suas mãos e subia lenta e calmamente pelos seus braços, chegando ao seu peito e dançando como em uma festa dos decepados, dominando seu coração com uma maligna escuridão perpétua cheia de alegria.
O dedo de Koute começou a brindar para lá e para cá; uma dança sem fim sob o sangue de Corlin. Os passos do inimigo que decepou sua amada se distanciavam cada vez mais. Então, quando a dança do dedo de Koute finalmente parou.
Um diagrama circular feito de sangue e com uma estrela de cinco pontas em seu centro, estava à espera de um segundo sangue. Koute mordeu a ponta de seu dedo e derramou o líquido. O diagrama começou a brilhar em uma cor que não era negra e nem branca, mas era um vermelho muito mais sangrento do que qualquer outro.
Então surgiu uma gigantesca silhueta com longos chifres escuros como carbono, um corpo musculoso e uma pele avermelhada. Com um rosto solene, ele observou a situação. Aquele ser, sem sombra de dúvidas, era da raça dos demônios, pois foi isso o que Koute invocou, mas… aquilo ali era algo que ia muito além do que o sangue de um dragão e um demônio poderia invocar. Ele olhou para os restos mortais de Corlin por alguns instantes e em seguida dirigiu o seu olhar para o jovem dragão. O rei demônio já estava distante dali.
– Foi você quem me convocou, criança? – Sua voz fez o coração de todos parar por um instante. Era como se houvesse utilizado alguma espécie de ataque, mas Koute não se importava com mais nada.
– Sim. – Ele respondeu alegremente, uma alegria que era destruída por seu rosto.
– Então, por que me convocou?
– Salve-a! – Koute pegou a cabeça de Corlin partida em dois e estendeu para o ser.
– Muito bem, o preço é o seguinte: Você não deverá deixar que um homem chamado Kytes deixe de ser humano. Em troca, eu impedirei 700 vezes a alma dela seja quebrada.
– Não me importo com o preço! Apenas faça isso logo!
– … Depois ainda me chamam de mal. – O ser estalou o dedo e todas as partes do corpo começaram a brilhar e em seguida se apagaram. – Está feito.
– Mas ela não está mais viva!
O ser respirou fundo e cruzou os braços. – Eu tentei avisar. Não se alarde, ela irá reencarnar, você só precisa encontrá-la.
– Então era isso…
– Bem, devo lhe dizer para cumprir sua promessa, pois caso contrário, ela irá enfrentar um destino pior que a morte de um demônio. Adeus. –O corpo do ser começou a se decompor e eventualmente desapareceu.
O último cenário, foi aqui o ponto de partida. O mundo começou a se desabar como um sonho que nunca existiu, as memorias de Kytes foram retornando pouco a pouco e a gravidade do planeta começou a se inverter. Caindo em direção ao céu, ele finalmente recuperou suas memórias.
Agora ele voltou a ser Kytes. Uma sala escura, uma cadeira de madeira em que ele estava sentado e diante dele, Koute, um jovem de cabelos dourados e pele clara que vestia uma blusa branca e uma calça moletom marrom.
– Yo, Kytes, gostou do passeio pelas memorias daquele que uma vez você devorou a alma?
– Ei Koute, nós somos uns idiotas… – Kytes argumentou com um rosto pesado.
– Realmente. – Koute estava tristonho.
– Essa 699º vez, não é?
– Sim…
– Então eu preciso me certificar de não deixar ela morrer.
– Espero que minhas habilidades venham a servir de algo.
– Com certeza vão, e mesmo se não servirem, eu darei um jeito.
– Isso certamente me deixa mais tranquilo. Estou depositando minhas esperanças em você, Kytes, o devorador de almas.
– Adeus, Koute, o dragão do tempo.
Segunda técnica: Imperatriz da eternidade, Gulão: O Porco do Ragnarok
A técnica invocada fez com que o corpo de Kytes voltasse no tempo, realizando uma simples mudança. Ele desviou um pouco do veneno e deixou que passasse em doses menores. Não demorou muito tempo para seu corpo desenvolver imunidade.
O lugar começou a se quebrar como um espelho, a escuridão perpétua estava se esvaindo, a consciência de Kytes voltava lentamente, até ele foi capaz de abrir os olhos para ver o que estava diante de si.