Humanos X Sistema (NOVEL) - Capítulo 6
Kytes fechou a porta e descansou suas costas sobre a entrada enquanto olhava para Corlin.
– Não entendi o que você quer dizer.
– Não finja ser idiota, aquele poder é muito diferente do que você me disse.
Ele soltou um longo suspiro, antes de voltar a falar.
– Você realmente quer saber isso?
– Não tem como confiar em alguém que não quer revelar a verdade.
– Não é meio hipócrita dizer isso, quando você também esconde algo?
– O que você quer dizer?
– Algum tempo atrás, aquele cientista havia lhe chamado de “Crazy Princess”.
– Aquilo não é nada.
– “Nada”, você diz, mas se minha memória não falha, aquele nome vem de uma família de assassinos.
Corlin soltou um longo suspiro.
– Olho por olho, dente por dente. Se eu lhe disser sobre isso, você deverá me contar sobre aquilo.
– Juro juradinho!
– Okay… Assim como você disse, meu nome vem de uma família de assassinos de aluguel realmente forte, eu era filha da chefe principal. Até que chegou o inesperado dia em que todos fomos dizimados. O Sistema apareceu e matou cada um de nós sem sequer se mostrar…
Todos morreram por asfixia, como se um ser invisível houvesse surgido do nada e os estrangulasse sem dó nem piedade. Felizmente, eu e meu irmão estávamos em um quarto secreto e graças a isso nós fomos capazes de sobreviver . Acabou que eu sou a última pessoa mais velha da família, o que me fez herdar o nome de Crazy Princess.
– Que passado bom, hein?
– Insensível.
– Não me venha com essa, sua família tratava as crianças como armas de matar, eu realmente duvido que você sinta falta deles.
– É. – Corlin deu um longo suspiro e jogou os braços para o alto, deixando seu corpo cair na cama.
Kytes veio a se sentar no pé da cama, encarando a velha parede do quarto.
– Então vamos lá… Foi no primeiro ataque da ‘Life’, aquela que foi possuída pela vida, assim como um demônio possui uma pessoa. Era um dia comum no interior de minha terra natal, o sol estava brilhante como sempre, a grama molhada por causa da chuva do dia anterior, e lá estava eu com meu melhor amigo.
Se me lembro bem, ele era 3 anos mais velho do que eu, que tinha 8 na época. Nós estávamos passeando quando aquilo aconteceu. Uma garota de longos cabelos verdes e de pele clara, totalmente nua, estava no meio do nosso caminho. Ela olhava fixamente para meu melhor amigo Robertinho, que apelidei de Robe.
A moça começou a andar em nossa direção quando de repente Robe agarrou-me pelo braço e saiu correndo. Ele não disse nada, mas para me agarrar daquela maneira, eu sabia que algo de errado não estava certo. Nós corremos até não aguentarmos mais e chegamos em um pequeno penhasco de pouco mais de 15 metros, que tinha um solo de grama e em seu pé havia um grande lago. Robe me posicionou à sua frente, com as costas para o lago e disse:
“Apenas seja levado, você irá para um lugar seguro. Quando a hora chegar, apenas o desafie para algo que você tem certeza que vencerá.” Ele então me empurrou no penhasco, de forma que eu simplesmente caí de costas no lago.
Aquelas palavras não faziam sentido. Ser levado? Por quem? Desafiar quem? Eu não fazia ideia, só sei que ainda enquanto caia eu vi meu melhor amigo, com um sorriso no rosto, ter uma espada de ouro cravada em seu estômago. A garota havia disferido um ataque nele pelas costas.
Assim que minhas costas tocaram a água, duas mãos negras se prenderam em meu abdômen, me puxando a uma velocidade alucinante para o outro lado do lago. O lago não tinha menos de 700 metros e mesmo assim as mãos me levaram para a outra ponta antes mesmo de eu terminar de respirar.
Ao chegar do outro lado do lago, eu estava assustado. Tossi e me levantei, foi quando percebi uma sombra humanoide diante de mim.
“Garoto, eu me apossarei do seu corpo. Não resista, você não pode me vencer.”
Ela disse sem mexer seus lábios, e ao ouvir aquelas palavras, no mesmo instante percebi quem deveria desafiar.
“Eu me recuso a entregar meu corpo a alguém mais fraco do que eu.”
Eu disse a ela. Mesmo estando borrado de medo, felizmente aquilo foi mais do que o suficiente para enfurecê-la, e como uma criança mimada ela caiu na minha armadilha.
“Garoto, escolha qualquer esporte ou desafio, eu lhe vencerei em qualquer um. Eu sou um ser que obteve conhecimento ao longo de milhares de anos.”
“Então vamos fazer um acordo: se eu ganhar, você se tornará meu servo. Se eu perder, você leva meu corpo.”
“Muito bem, você tem minha palavra.”
Logo eu o levei para minha casa, para preparamos o palco para a batalha que definiria meu futuro. Ainda enquanto o levava, eu me lembro de ter dado o máximo de mim para tentar não pensar em Robe.