Humanos X Sistema (NOVEL) - Capítulo 8
Kytes observou o corredor: o chão era feito de mármore, e ele ia para a direta e para a esquerda, com a distância entre essas duas direções sendo iguais. As paredes eram brancas, levemente sujas. O corredor em si não era muito longo, já que a hospedaria era pequena e quadrada. Ao lado direito do quarto, havia uma escadaria que levava para o saguão, marcando o centro do estabelecimento. Quando algo chamou a atenção de Kytes, ele perguntou à Corlin:
– Ei Corlin. Nosso quarto é no segundo andar, né? – Ele tinha um rosto solene, mas não demonstrava preocupação.
– Sim, o segundo da direita, logo após subir a escada.
– Saquei… A gente se fodeu lindão agora…
– Ahn? Como assim?
Kytes começou a cutucar o interior do nariz antes de continuar a falar.
– Se nós estamos mais à direita do estabelecimento, por que o corredor que leva para a direita tem distância igual ao da esquerda? O da esquerda não deveria ser maior?
– Caralho melhor, perfeccionista tu, hein?
– Isso deveria ser um elogio? – Kytes tirou o dedo do nariz e colocou as mãos no bolso. – De qualquer forma, vamos esperar. Eu não morro de fome e posso passar meus nutrientes para você. Certamente o inimigo que nos observa sabe disso, então ele deve estar preparando um ataque para me tirar do jogo.
Kytes respirou fundo. Quando foi se afastar da parede, uma lança foi jogada em sua direção em alta velocidade, perfurando seu abdômen e a parede atrás dele. Kytes nem teve tempo de reagir e cuspiu um bocado de sangue, coisa que não fazia há muitos anos.
Ao observar melhor a lança, Kytes percebeu que ela era verde claro nas pontas e verde escuro no centro, como se fosse feita de jade. Antes que pudesse pensar mais nisso, no entanto, a lança soltou uma fumaça cinza e evaporou no ar.
– Que droga foi essa? – Perguntou Kytes enquanto limpava o sangue de sua boca. Corlin já estava em guarda empunhando uma de suas muitas espadas.
A carne danificada de Kytes se regenerou e quando ele tentou dar um passo, notou que seu corpo estava se tornando duro como pedra e ele logo ficou imóvel. Procurou por alguma espécie de veneno em seu corpo, mas não encontrou nada.
Como ele tinha pego um impulso ao tentar se mexer, logo iria colidir com o chão, onde iria criar um novo corpo a partir de sua regeneração. No meio da queda, no entanto, um colchão surgiu diante dos olhos de Kytes e ele não se feriu ao cair.
“Ah, merda, era só o que me faltava. Maldito pessoal da ala dos cientistas.”
Ainda conseguindo ver e ouvir muito bem, ele percebeu que uma garota havia aparecido.
Ela tinha uma pele clara, um par de asas de morcego e uma fina cauda negra com um coração na ponta. Usava um coque duplo segurado por palitos chineses e um apertado vestido vermelho que ia até as coxas, onde era levemente aberto, semelhante à área dos seios enormes.
O que realmente chamava a atenção, no entanto, era sua pupila em forma de coração, seu cabelo com um tom de azul escuro e seu salto alto cor de sangue que a fazia ficar com 1,75 de altura.
– YAAA! – Ela gritou excitada e com as mãos nas bochechas. – Essas coisas que os cientistas fizeram são realmente ótimas!
Corlin, que estava próxima, havia sido paralisada, foi tão rápido que nem se sabe o que a atingiu. A garota morcego pegou Kytes pelas bochechas, o ergueu com uma força incomum e só parou quando ele estava de pé. Aproximando lentamente seu rosto, era possível sentir o aroma agradável de um perfume da primavera, até que ela finamente se aproximou o suficiente e lhe deu um beijo, carinhosamente remexendo sua língua no interior da boca de Kytes e tocando todas as partes possíveis.
“GG WP. Última vez que recebi um beijo fácil assim, um demônio queria comer minha alma.” – Pensou Kytes, já que isso era tudo que ele podia fazer no momento.
Segundos depois, a garota distanciou seu rosto. “Dor infernal” é a melhor frase para descrever o que Kytes sentiu. Seu sangue começou a ferver, sua cabeça a latejar, seus músculos a se contrair e a pupila de seu olho direito dilatou. A garota sorriu levemente e simplesmente o soltou no ar, fazendo-o cair novamente no colchão, a dor não dando um segundo de trégua sequer.
A visão de Kytes foi lentamente escurecendo. Não conseguindo se recuperar, tudo que ele pôde fazer foi ouvir antes de desmaiar:
– Bem, agora vamos cuidar da traidora.
Finalmente inconsciente, Kytes se viu novamente em um lugar que desejava esquecer: seu subconsciente, a casa das almas devoradas por ele. Estando sentado em uma cadeira velha de madeira que já estava caindo aos pedaços, Kytes tinha braços e pernas amarrados com cintos de couro. Sua cabeça a todo momento estava abaixada.
O local era totalmente escuro, uma escuridão que não se podia ver o fim, e foi desse breu que uma figura apareceu. Um belo jovem de cabelos dourados e pele clara, vestindo uma blusa branca e uma calça moletom marrom. Caminhando até Kytes com as mãos no bolso, ele não demonstrava ódio, mas tinha um sorriso sádico estampado em seu rosto.
– Yo! – Exclamou ironicamente. – Quanto tempo faz, meu consagrado?