Humanos X Sistema (NOVEL) - Capítulo 9.5
Batendo suas rígidas assas, Koute passava pela cidade dos mortos, a última ruína antes de chegar no submundo. Sua presa era óbvia: Alazar, o terceiro herdeiro do trono. O rei demônio estava em uma viagem para subjugar a Igreja de Norte Drame, então a maior adversidade será o cão de três cabeças… Cérberos.
Os olhos de Koute e de Cérberos se encontraram a quilômetros de distância. Essa seria uma batalha lendária. O dragão guardião do tempo contra o cão guardião do submundo. Certamente uma luta que será lembrada por milhares de anos.
O dragão parou em meio ao céu. Era uma noite sondada por nuvens negras, uma escuridão absoluta marcava aquele lugar e um traiçoeiro cheiro de morte estava presente. Ali, dois seres colossais se encaravam. Cérberos, o gigantesco cão negro de três cabeças, estava de costas para o grande portão do submundo, enquanto olhava ferozmente para Koute.
Um trovão caiu do céu e iluminou o lugar por apenas um instante. Então a batalha começou.
O dragão investiu contra Cérberos e a distância entre os dois foi diminuída em um piscar de olhos. Koute preparou suas chamas azuis em sua garganta e quando a distância diminuiu, ele as soltou contra o cão. Cérberos não ousou ficar para trás e junto com a rajada de fogo liberada pelo dragão, cada uma de suas cabeças cuspiu um fogo tão quente quanto o sol.
As chamas colidiram e ficaram em um impasse. Os arredores foram devastados pela onda de ar que emanou daquele poder destrutivo. Logo as chamas iriam se apagar e foi quando Koute sentiu uma enorme pressão em seu rosto que o fez ser arremessado para longe. Cérberos lhe deu uma patada.
Enquanto o dragão atravessava o ar tentava frear com suas asas, o enorme cão acima dele. Trovões rugiam e raios caiam incessantemente do céu, enquanto aquelas ruínas eram cada vez mais destroçadas. O dragão mordeu um dos pescoços de Cérberos, mas logo teve seu pescoço mordido pelas outras duas cabeças.
Bater de asas, rugidos furiosos, pressão esmagadora… foi tudo que o dragão conseguiu fazer. Eles pararam na beirada de um enorme penhasco, as três cabeças mordiam fortemente o pescoço do dragão. Os céus choravam e a chuva que caía era fina, amarga e trazia um gosto lúcido e ao mesmo tempo louco.
Assim como no início, um trovão marcou o final da luta. Todo o local foi iluminado, mostrando uma grande asa cravada na barriga de Cérberos. Esta foi a última e salvadora tentativa de Koute. A pressão das mordidas no pescoço do dragão foi se esvaindo junto da sua vida. Até que, finalmente, nem uma de suas cabeças conseguia morder.
Com um último suspiro, Cérberos deitou seu corpo sobre o abismo sem fim, uma queda iminente pelo penhasco. O último pensamento que teve não foi de desapontamento por ter deixado um invasor passar, e sim de felicidade, pois ele finalmente havia encontrado um oponente à altura.
Koute respirava pesadamente e uma dor terrível e infindável destruía seu corpo, mas ninguém iria ajudá-lo. Tudo o que lhe restava era levantar e seguir em frente… e foi isso o que ele fez. Se arrastou com patas e asas danificadas até o portão enquanto invocava uma magia de cura, o que não foi o suficiente para sumir com as marcas de seu pescoço.
Diante do portão de metal, com 20 metros de altura e 10 de largura, ele voltou para sua forma humana. Um empurrão foi o suficiente para abrir a entrada do submundo. Um simples passo ali dentro e mil espadas já estavam sobre seu pescoço. Os inimigos pareciam humanos, mas possuíam chifres e asas vermelhas, além de serem todos do sexo masculino. Koute olhou mais adiante; a partir dali havia um grande abismo que levava a um mar de fogo repleto de seres que clamavam por socorro.
Mesmo com inúmeras lâminas sobre seu pescoço, Koute não temeu o futuro nem por um momento. O lugar era grande o suficiente para se transformar e em um segundo sua forma original já havia tomado todo seu ser. Chamas azuis tomaram o local e sangue espirrou por todos os lados. Uma grande sombra de um dragão era vista por todos que estavam no mar de fogo.
Não demorou muito para que não restassem mais inimigos diante de Koute. Comparados com Cérberos, aqueles ali não passavam de meros insetos. Com um rugido e um bater de asas, o dragão desceu em linha reta em direção ao mar de fogo e quando se chocou, chão cedeu. O que havia ali embaixo era um grande salão.
Paredes negras e esqueletos para todos os lados. Uma simples tocha, atrás de um trono de madeira, iluminava todo o salão. Gritos de socorro soavam de lugar nenhum. Sentado no trono, havia um demônio de chifres de ouro, pele clara e cabelos dourados, vestindo um grande manto branco banhado à sangue. Ele imponentemente encarou Koute e logo soltou grandes risadas convulsivas que fizeram todo o local estremecer.
– Você realmente chegou até aqui! Chega a ser engraçado que alguém venha aqui para morrer! – Ele disse.
– Você é o Alazar? – Perguntou Koute enquanto voltava a sua forma humana.
– Isso mesmo, está contente por me ver!?
– Claro que estou, significa que meu faro ainda está bom. – Disse Koute com um sorriso sádico e olhos desesperados por uma vítima. Um símbolo mágico apareceu no chão diante dele e cuspiu uma alabarda com laminas de prata. – Vamos começar logo o seu assassinato!